quarta-feira, julho 30, 2008

Lembranças levadas


Não vá cair do balanço hoje! Disse ao amigo que voava preso a uma árvore.
...
Continuou andando em direção a praia, sentou meio agachado em um daqueles grandes blocos de concreto que impedem os carros de entrar na areia, abraçou os joelhos e fitou o mar como se fosse a última vez em que visse algo belo. Não tinha por do sol, não tinha gaivotas voando ou correndo pela areia, não tinha píer e nem barcos a vela no horizonte. Mas foi o lugar em que viveu boa parte de seus verões jogando vôlei mesmo sendo péssimo nisso. O baralho no quiosque até altas horas da noite. O quiosque ficava na areia da praia. Era da Dona Edna que estava sempre a ponto de pegar uma gripe e choravam de rir quando lembravam da propaganda da TV.

Mas o mar estava subindo. Ano passado entrou três vezes água na sua casa a beira da praia. Este ano seu pai construiu uma porta de aço para fechar a entrada da garagem e cimentou mais blocos até o fim do muro na entrada social. Mas as ondas bateram tão fortes esse ano que o medo se espalhou pela vizinhança. O quiosque do baralho, das risadas, da música lenta em plena madrugada onde as meninas coravam seus rostos para dançar, foi destruído pelas águas no início de Dezembro. Pelo que ficou sabendo Dona Edna tentou montar uma lanchonete no centro, mas logo faliu e nunca mais a viram. A incerteza de chegarem ano que vem e não terem mais sua casa, de que a água do mar já terá levado suas lembranças dos verões felizes o fazia chorar.

Daqui por diante o mar não trará boas lembranças, mas as levará.
O que fará você ao ver sua história se afogar?
Continuará a ignorar a natureza?

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