terça-feira, abril 22, 2008

A arma invisível


-Cuidado com a minha mira seu canalha pois acerto um pato manco a kilómetros de distância.
E ele ria com despeito – nem pato manco, nem bode veio cegueta ou galinha que acorda morta ocê pega, nem trisca a oreia.
Enquanto encostava o cano da pistola em seu peito dizia – então pega esse marimbondo que vai atravessar o seu peito seu mindingo – apertando cada vez mais o cano contra o peito mirrado do caipira.
De repente sem que ninguém pudesse ver ou acompanhar os movimentos executados pelo caipira, com a mão direita ele tira o cano da pistola do peito e segura o pulso do garoto, com o cotovelo esquerdo lhe acerta a orelha derrubando-o de cara no chão, e ainda segurando seu punho o caipira colocou seu pé nas costas e puxou para traz o braço do garoto.
Com uma voz mais grave mas ainda em tom de desdém – oia qui prei boizinho de merda, não é porque que ocê vem lá das banda da cidade grande dentro desse carão amarelo feio e baruiento usando ropinha de cantô de rap dos isteitis que ocê vai chega aqui pensando que pode mandar em nóis, enquanto sua muié fô essa belezura eu vô mexe o quanto eu quize por que ocê só sabe ser macho cum uma arma na mão já eu sô macho im quarqué lua, principalmente na cama com uma belezura dessas.
Nesse momento a garota deu um leve sorriso de lado e entendeu o tom de deboche das palavras do caipira e por um momento se pegou pensando que seu namorado era realmente um pirralho covarde e que merecia tudo aquilo.
O caipira chutou a arma para longe e soltou o braço do garoto, mas por puro prazer de humilhar um “prei boizinho que pensa que é cantô de rap” escorregou seu pé para o pescoço e deu uma apertadinha, leve o suficiente para que algumas pedrinhas ficassem presas ao seu rosto para então solta-lo de vez.
-E é mio ocê saí daqui de cabeça baixa e sem resmunga porque eu tive um tantinho assim de quebra seu braço e tô com uma vontade tremenda de compretá o serviço, e se sua muié quisé fica – já olhando para a garota – tem casa, cumida na mesa e cama redonda esperando ela. Então o sorrisinho de lado se transformou num aberto e largo sorriso levando a pensar que se ela não fosse tão fútil e ambiciosa poderia ficar para ver o que mais aquele caipira tinha a oferecer, pois naquele momento ele estava bem mais atraente do que seu covarde namorado. Viu-se relutante em entrar no carro sendo puxada com violência para dentro. Ouviu o garoto resmungar algo que nem se deu conta do que era e já pronunciou o veredicto:
-Seu cretino estúpido, bem q minha mãe dizia que a violência é o recurso dos fracos.

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